Diretor do Grupo Vila Nova, o presidente da ABAD, Leonardo Severini, conta como foram para a empresa e para a ABAD os anos de pandemia vividos pelo Brasil. E revela os aprendizados que esse momento tão difícil trouxe. De trabalho e reuniões em home office à adoção de tecnologias digitais, com maior compreensão quanto à realidade dos parceiros, dos colaboradores. Graças ao trabalho, o time do Vila Nova, hoje, é mais coeso e totalmente integrado à cultura da transformação. A seguir, a entrevista.
Anuário ABAD – A pandemia nos deixou algum legado? Em caso positivo, qual?
Leonardo Severini – Convicção quanto à capacidade de mudança dos padrões de trabalho e compra. Aprendemos a trabalhar em home office, a nos reunir em home office, somos muito mais efetivos e econômicos em nossas reuniões e aprendemos a consumir de forma disruptiva também através da internet. Isso faz com que nossas empresas tenham cada vez mais que se transformar digitalmente, e esse foi justamente o tema da nossa Convenção. Aprendemos, também, a ter mais compreensão quanto à realidade alheia, setores e pessoas. A ABAD, junto com outras entidades, presenciou muito declínio de operações. A ABAD é irmã da Abrasel [Associação Brasileira de Bares e Restaurantes] na UNECS [União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços]. Vimos situações trágicas na Abrasel. A ABAD é irmã da CNDL [Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas] e CACB [Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil]. Vimos muito fechamento e quebradeira naqueles setores, e apesar de tudo, a ABAD e a ABRAS [Associação Brasileira de Supermercados] tiveram movimento positivo nesses anos de pandemia. Isso gerou para nós uma conscientização quanto à realidade alheia e uma compreensão quanto à forma de percepção do mundo, das pessoas, na forma de trabalho e de consumo. As pessoas estão começando a valorizar a sua própria vida e encurtando determinados tempos e distâncias para efeito de conciliar trabalho com bem-estar pessoal. E o setor está se transformando digitalmente para cada vez mais contemplar esse tipo de mudança comportamental.
Anuário ABAD – Olhando para o futuro, o senhor acredita que o setor está preparado para enfrentar novos desafios semelhantes aos verificados em 2020 e 2021?
Leonardo Severini – Nunca sabemos e nunca saberemos o tamanho do problema, por exemplo, nessa guerra entre Rússia e Ucrânia, com consequências de alcance mundial. Também não estamos livres de novas questões sanitárias, que podem surgir a qualquer momento.
Contudo, o Brasil é um país resiliente, assim como seus empresários, que aprenderam ao longo de décadas a lidar com questões como inflação elevada, instabilidades econômicas, crises internacionais, e variações no poder aquisitivo do consumidor – além do grande aprendizado que colhemos durante a pandemia da Covid-19.
Para fazer face a desafios futuros, o ideal é que tenhamos empresas com sólido investimento prévio em tecnologia e uma gestão ágil e profissionalizada, para fornecer em tempo hábil as necessárias respostas a mudanças rápidas no cenário nacional ou internacional.
De maneira geral, as empresas do setor têm tido essa consciência, têm buscado fazer esses investimentos e preparar seus colaboradores. Também têm ampla experiência e conhecimento do mercado, além de uma sólida parceria com a indústria, e as novas gerações de sucessores são cada vez mais bem-preparadas. Dessa forma, sim, nos parece que o setor tem plenas condições de enfrentar períodos difíceis.
Anuário ABAD – Nesse período de pandemia, o Grupo Vila Nova cresceu?
Leonardo Severini – Sim. De R$ 1,295 bilhão entregue em 2019 fomos para R$ 2 bilhões em 2020; em 2021, foram R$ 2,16 bilhões. De 2019 para 2021 crescemos 56%. O mercado impulsionou esse crescimento, mas estávamos preparados. Em termos nominais, o mercado cresceu 30%; nós crescemos 56%. Isso é resultado de trabalho e ajustes operacionais e transformação digital implementados ao longo de dez anos. Estamos colhendo agora. Hoje, temos um time coeso, o grupo confia na direção. O mais importante é isso, a confiança pré-estabelecida entre a direção da empresa e o grupo gestor. Costumamos contratar gerentes que sabem mais do que nós. Contrato para absorver deles a capacidade que eles trazem. E os gerentes confiam na direção do barco. É como o técnico de futebol, que coordena bem o atacante, treina o goleiro, faz o dever de casa. Esse é o nosso trabalho.
Anuário ABAD – Quais os legados da pandemia?
Leonardo Severini – Ouvir muito. Digo que temos de pensar rápido e agir devagar. Juntar tudo que todos estão falando para depois estabelecer a condução. Manter a rotina de trabalho. Trabalhar em prol da melhoria da nossa qualidade de serviço, oitiva com relação a posicionamento de preço de categoria, de fornecedor, ouvir o nosso cliente varejista, de que forma ele está atuando, o que espera de nós como parceiro. Ouvir o nosso fornecedor, como ele espera que conduzamos os seus lançamentos, as suas categorias de produtos. Isso é muito importante. A nossa cultura é de apropriar o que temos de conquista e somar à nossa rotina. Hoje, conseguimos apropriar a rotina da transformação, que é o mais difícil. Há um dito no meio empresarial de que a cultura come a estratégia no café da manhã. Se você não aculturar a transformação, não consegue apropriá-la. Conseguimos fazer com que a transformação digital se tornasse parte da nossa cultura e nossa rotina.