Empossado no final do ano passado como presidente da ABAD, Leonardo Miguel Severini entende que o momento atual, com certeza um dos mais difíceis que o País já enfrentou, requer confiança e resiliência. “A confiança nos traz a certeza de que, por mais difícil que pareça o presente, ele será superado e deixado para trás. E quando as dificuldades se estendem ou apresentam novas faces, é a hora da resiliência, atitude que nos permite juntar forças para seguir um pouco mais, realizar um pouco mais, nos superarmos um pouco mais, em nome de um bem maior”, explica. Otimista com relação à performance do setor em 2021, Severini destaca ao Anuário ABAD as ações que colocam o setor em outro patamar: o lançamento do Marketplace ABAD e do novo Banco de Dados, com categorização e regionalização dos dados. Leia, a seguir, a entrevista.
Anuário ABAD – O senhor está assumindo a ABAD naquele que talvez seja o ano mais difícil vivido pelo País em função dos estragos provocados pelo coronavírus. Diante desse cenário, quais os projetos que planeja implementar na entidade?
Leonardo Miguel Severini – A ABAD é uma entidade sólida que, nos últimos 40 anos, vem trabalhando de forma exemplar pelo desenvolvimento do nosso setor, com diversas ações relevantes para impulsionar progressos nos aspectos trabalhista, logístico-operacional, ético, ambiental, entre outros, produzindo estudos e pesquisas relevantes sobre o mercado de distribuição e promovendo relacionamento de alto nível com a indústria fornecedora, além de proporcionar amplo suporte político e jurídico às demandas, inclusive disseminando informações e orientações essenciais durante a pandemia. Dessa forma, a primeira missão que nos cabe é manter esse legado e dar continuidade às atividades bem-sucedidas que têm beneficiado nosso setor. Mas, para além dessa continuidade, temos novos projetos a ser implementados como o Marketplace ABAD e o novo Banco de Dados ABAD, com categorização e regionalização dos dados.
Anuário ABAD – No início do ano, a UNECS [União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços], da qual a ABAD é uma das fundadoras, e a FCS [Frente Parlamentar do Comércio e Serviços) divulgaram carta aberta pedindo medidas emergenciais para conter o avanço da pandemia. Que medidas são essas?
Leonardo Miguel Severini – Com o prolongamento da pandemia e de seus efeitos nefastos sobre a sociedade e a economia, nessa carta, publicada no mês de março, exortamos o governo federal a liderar o necessário processo de combate à Covid-19, com a criação de um gabinete de crise nacional, envolvendo de forma coordenada Congresso, Judiciário e toda a sociedade, pois julgamos que a gravidade dos efeitos da crise sobre a população pedia medidas mais positivas do que as tomadas até então no tocante à proteção da saúde, segurança alimentar e geração de empregos. Solicitamos, ainda, maior diálogo com a sociedade civil organizada, para que os governos estaduais e municipais mantivessem um canal aberto e construtivo com as entidades representativas do setor privado em busca de alternativas conjuntas para o enfrentamento da crise. Destacadamente, falamos da necessidade de agilizar a retomada do auxílio emergencial, além de outras medidas:
• Ampliação do número de leitos hospitalares;
• Intensificação da fiscalização aos estabelecimentos comerciais e residenciais que descumprissem as regras de distanciamento e de aglomerações;
• Realização de campanha nacional de conscientização pelo Ministério da Saúde, usando todos os meios de comunicação, reiterando a necessidade e a importância das medidas de proteção contra a disseminação do vírus e de distanciamento social;
• Aumento e controle das frotas de transporte público;
• Agilidade na vacinação
Além disso, sabendo da situação grave em que se encontravam as empresas, sobretudo as micro e pequenas, também pleiteamos medidas destinadas a garantir sua sobrevivência. Pedimos a reabertura do Programa Especial de Regularização Tributária, o PERT – também chamado de novo Refis – para que as empresas pudessem renegociar suas dívidas; restabelecimento de medidas como redução de jornada e suspensão de contrato de trabalho, visando à manutenção de empregos; reedição de programas de crédito como Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e PEAC [Programa Emergencial de Acesso a Crédito], além da prorrogação do PERT [Programa Especial de Regularização Tributária], com novos prazos e condições para o pagamento de débitos tributários constituídos em 2020. Felizmente, transcorrido seis meses depois da publicação da carta aberta, já vemos muitas das reivindicações atendidas, como o Pronampe, portal #PatriaVacinada, BEm [Programa Emergencial de Preservação do Emprego e Renda], Programa Pró-Leitos e muito mais.
Anuário ABAD – Em pronunciamento à entidade, o senhor citou as palavras confiança e resiliência como essenciais neste momento. Por que elas são essenciais?
Leonardo Miguel Severini – A confiança nos traz a certeza de que, por mais difícil que pareça o presente, ele será superado e deixado para trás. E quando as dificuldades se estendem ou apresentam novas faces, é a hora da resiliência, atitude que nos permite juntar forças para seguir um pouco mais, realizar um pouco mais, nos superarmos um pouco mais, em nome de um bem maior. Num momento que ainda é de grandes desafios, essas duas qualidades nos ajudam a manter os olhos no futuro e superar as dificuldades presentes.
Anuário ABAD – O Ranking ABAD/Nielsen 2021 registrou para o setor em 2020 crescimento de 5,2% nominais e 0,7% em termos deflacionados, com faturamento de R$ 287,8 bilhões e participação de 51,2% no mercado mercearil nacional. Com base nesse levantamento, podemos prever um 2021 também com performance positiva?
Leonardo Miguel Severini – Certamente. Já vemos a economia reagir acima do esperado pelos analistas no início deste ano. Como já mencionamos em outras ocasiões, temos a felicidade de trabalhar com bens de consumo essenciais, o que nos permite antever para 2021 um crescimento em torno de 5%. Nos três primeiros meses de 2021 nós já tivemos um crescimento nominal de quase 4%. E é preciso lembrar que a comparação é feita com o primeiro trimestre do ano passado, quando a economia transcorria em normalidade. Este ano, no primeiro trimestre, estávamos sob o impacto da pandemia e ainda não havia sido retomado o auxílio emergencial. Isso impactou sobremaneira o consumo das famílias, e mesmo assim o setor conseguiu manter o abastecimento e também, por consequência, o faturamento.
Anuário ABAD – De outro lado, projeções de economistas indicam que a inflação, neste ano, deve superar a meta estabelecida pelo governo, de 3,75%, além de alta na taxa dos juros básicos e redução do crescimento do PIB. Como o senhor analisa essas projeções?
Leonardo Miguel Severini – De fato, a inflação tem se mostrado persistente, e os juros estão em trajetória de alta. Por outro lado, o PIB do primeiro trimestre cresceu 1,2% em relação ao mesmo período de 2020, bem acima das previsões, em parte pelo crescimento de Estados Unidos e China e pela alta no preço das commodities agrícolas, que beneficia bastante nosso agronegócio. Apesar das dúvidas que ainda pairam sobre o desempenho da economia, acredito que há espaço para otimismo, tendo em vista que a vacinação está avançando, e que o crescimento deste início do ano deve se reverter em empregos nos próximos meses.
Anuário ABAD – Quais as prioridades da ABAD nos campos político e jurídico em 2021?
Leonardo Miguel Severini – Neste ano, a prioridade de nosso Comitê Agenda Política é trabalhar, junto com a UNECS e a Frente Parlamentar do Comércio e Serviços, pela aprovação da Reforma Administrativa, para adequação do custeio da máquina pública, e da Reforma Tributária. A ABAD já vem se manifestando, há alguns anos, a favor da atualização e simplificação da legislação tributária no País, tendo sugerido alterações nas leis que afetam diretamente o setor e obtido algumas vitórias pontuais. Contudo, agora mais do que nunca, é necessária uma modernização profunda do sistema tributário nacional, e é vital que ela ocorra o quanto antes. De nossa parte, empenharemos nossos melhores esforços nesse sentido.