No final de seu segundo e último mandato à frente da ABAD, o presidente Emerson Destro faz um balanço de suas atividades, reconhecendo que sentar à mesa como dirigente máximo da entidade foi um grande desafio. Sob seu comando, foram realizadas grandes mudanças estratégicas na ABAD. Com uma gestão enxuta e focada em produtividade, elevou a Convenção Anual a um novo patamar, tornando-a compacta e densa em conteúdo. Abriu novos caminhos políticos, visando um melhor ambiente de negócios para todos. Mobilizou representantes da indústria para definir estratégias para a cadeia de abastecimento, preservando o equilíbrio saudável e ético entre as empresas. E mesmo quando o País entrou no que pode ser a pior crise da história mundial, provocada pela pandemia do novo coronavírus, a entidade não se abalou, superando as dificuldades e dando suporte ao associado. Em conversa com o Anuário ABAD, Destro fala dessa trajetória e da sua obstinação em criar mecanismos para desenvolver o setor cada vez mais, agregando valor para todo o Canal Indireto: indústria, parceiros, filiadas, associados e agentes de distribuição. Leia, a seguir, a entrevista.
Anuário ABAD – Ao terminar o seu segundo mandato à frente da ABAD, qual a avaliação que faz dessa gestão?
Emerson Destro – Estar à frente de uma entidade de abrangência nacional como a ABAD é sempre um grande desafio, que não poderia ser enfrentado sem a contribuição dos membros da diretoria, da equipe executiva da entidade, dos líderes regionais e dos presidentes e executivos das nossas filiadas estaduais. Por meio da atuação coordenada e do trabalho conjunto, acreditamos ter feito importantes progressos em prol do setor atacadista e distribuidor durante a gestão, agregando valor para toda a cadeia de abastecimento, em especial no relacionamento com a indústria de bens de consumo e na agenda política do setor. Isso significa que conseguimos ampliar ainda mais o diálogo com as indústrias fornecedoras, parceiras do setor, para debater as estratégias de crescimento e o futuro do canal indireto, visando maior eficiência na busca de crescimento e melhoria da rentabilidade para todos os elos da cadeia, desde a indústria até o pequeno varejo. No aspecto político, temos mobilizado nossas filiadas a fim de nos aproximar dos representantes de seus Estados no Congresso Nacional, contribuindo para pautar questões relevantes para o setor, em especial nas áreas tributária, trabalhista e normativa. Assim, esperamos que esse intenso trabalho seja um bom legado para as próximas gestões.
Anuário ABAD – Nesses quatro anos de gestão à frente da ABAD, quais foram os maiores desafios enfrentados e como eles foram solucionados?
Emerson Destro – Um dos grandes desafios, sem dúvida, foi a mudança que promovemos em relação à Convenção ABAD. O formato do evento, adotado a partir de 2018, inaugurou um novo patamar no relacionamento entre o atacado distribuidor e a indústria fornecedora, com foco em alinhamento, produção de conhecimento e geração de negócios. Para atingir esse nível de excelência, foi necessário reforçar aspectos essenciais na entidade: governança, gestão e controle. Sempre com foco em agregar valor à cadeia de abastecimento. Temos trabalhado também por uma reforma tributária que simplifique os tributos e a burocracia envolvida no seu recolhimento. Desde o início da gestão, ao lado das entidades que integram a UNECS [União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços], procuramos nos aproximar do governo federal já no início do atual mandato para expor as dificuldades dos setores de comércio e serviços, e podemos dizer que obtivemos vitórias importantes em termos de desburocratização. Também tivemos resultados positivos em relação ao ajuste de normas trabalhistas e à legislação sobre transporte de cargas, corrigindo distorções que afetavam negativamente as empresas, como o adicional de periculosidade para caminhões que já saem de fábrica com tanque de combustível suplementar, certificado por órgão competente. Bastou a publicação de uma portaria pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia em dezembro de 2019 para excluir esse adicional. Mas a questão do adicional de periculosidade para motociclistas, que se arrasta desde 2014, ainda está pendente. Estivemos perto de resolver, mas a medida provisória que corrigia a distorção no texto não andou. Faz parte do jogo político. Não podemos desistir. Temos de continuar lutando por uma solução.
Anuário ABAD – No âmbito político, qual a avaliação que o senhor faz do trabalho da ABAD?
Emerson Destro – Acredito que avançamos bastante nesse aspecto, em razão de uma série de fatores. O atual governo, entre todos os governos recentes do País, é certamente, o que abriu maior espaço de diálogo com o empresariado, dispondo-se a ouvir as dificuldades e as contribuições para impulsionar o crescimento da economia. Além disso, a participação da ABAD na UNECS, entidade também bastante ativa do ponto de vista político, e a proximidade com a Frente Parlamentar de Comércio, Serviços e Empreendedorismo [FCS], uma das maiores e mais atuantes do Congresso, tiveram também impacto bastante positivo. Finalmente, nos âmbitos dos Estados, conseguimos contar com amplo engajamento das nossas filiadas, que cada vez mais se relacionam com os deputados federais e senadores de suas regiões para expor as questões do setor e solicitar o apoio deles na votação de projetos de lei relativos à atividade atacadista distribuidora. Portanto, assumimos o papel que nos cabe no debate político e nos tornamos os protagonistas das mudanças do País.
Anuário ABAD – Na economia, o Brasil viveu altos e baixos nesses quatro anos. O que podemos esperar para os próximos?
Emerson Destro – No início do ano, todos esperávamos que 2020 fosse um ano de retomada, em que o Brasil teria fôlego para voltar a crescer de forma sustentada. Porém, a crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus mudou esse cenário, afetando todos os setores produtivos. Alguns segmentos, como é o caso do atacado distribuidor, tendem a ser menos afetados, já que trabalhamos com produtos de primeira necessidade, de consumo obrigatório das famílias, como itens de alimentação, limpeza doméstica e higiene pessoal. Assim, apesar do cenário difícil, a partir dos dados de nosso Ranking anual e da pesquisa mensal do Banco de Dados ABAD ainda acreditamos num crescimento modesto para este ano. Contudo, sabemos que muitas atividades serão severamente afetadas pela paralisação forçada durante o período de quarentena, o que significa que alguns setores devem apresentar resultados negativos, podendo levar algum tempo para total recuperação, a depender da atuação do governo na ajuda dessas empresas para a retomada.
Anuário ABAD – A pandemia do coronavírus certamente deixará marcas profundas na economia brasileira. Como vencer esses desafios?
Emerson Destro – No início da pandemia, assim como diversos setores, tivemos de ser ágeis e nos adaptar. No caso do nosso setor, parar as atividades nunca foi uma opção. De um lado, temos a responsabilidade social de garantir o abastecimento do pequeno e médio varejo para que ele possa continuar atendendo as famílias brasileiras. Por outro lado, temos a responsabilidade econômica de preservar os empregos de todos que fazem parte dessa cadeia, como indústria, atacado distribuidor e pequeno varejo. Tivemos de reforçar as medidas de segurança e higiene, desenvolvemos protocolos de apoio e proteção aos colaboradores internos e aos motoristas responsáveis pelo transporte das mercadorias, nos engajamos em campanhas para informar e tranquilizar a sociedade, e a maioria das nossas empresas conseguiu evitar demissões. Olhando para o futuro, eu diria que o caminho das empresas é seguir em busca de maior produtividade e eficiência que permitam recuperar as perdas sofridas durante a pandemia, enquanto que o governo precisará aumentar esforços no sentido de desburocratizar as relações dos setores produtivos com o Estado e promover cada vez mais a competitividade, para que possamos voltar a crescer.
Anuário ABAD – Cite um projeto ou programa que, na sua opinião, foi fundamental para dinamizar o trabalho da ABAD como porta-voz do segmento atacadista distribuidor.
Emerson Destro – Foram quatro anos de intensa atuação da diretoria e das filiadas estaduais da ABAD em prol da agenda política. Estivemos em Brasília para encontros com membros do Legislativo e do Executivo sempre com o intuito de buscar soluções para os pleitos do setor. Mas acredito que um marco nessa gestão tenha sido nossa atuação em relação à crise gerada pelo coronavírus. Desde que a pandemia foi deflagrada, na segunda quinzena de março, atuamos intensamente para sanar dúvidas do setor e acalmar a sociedade em relação ao abastecimento. Fizemos diversos comunicados com orientações sobre como lidar com a pandemia, destacamos a lei que enquadra o setor como atividade essencial, apresentamos propostas ao Ministério da Economia, fazendo parte de um comitê de crise do setor de comércio e serviços desde o início. Dessa forma, participamos ativamente com o intuito de mitigar os efeitos da crise nas empresas. O setor atacadista e distribuidor exerce uma função primordial na cadeia de abastecimento, levando para milhares de estabelecimentos os suprimentos de que as famílias necessitam. Portanto, tínhamos que encontrar as melhores soluções para continuar a exercer nossa atividade em um cenário bastante complexo inicialmente. Outro marco importante é, sem dúvida, o projeto de Marketplace da ABAD, que está na fase inicial. Por meio do comitê, formado por empresários e consultores, estamos modelando mais um canal de vendas para o setor, que será fundamental no futuro, que já chegou. A proposta é criar um ambiente B2B amigável e democrático, que propicie o crescimento das empresas atacadistas e distribuidoras.
Anuário ABAD – A partir de janeiro de 2021 a ABAD terá uma nova diretoria e um novo presidente. Que conselho ou sugestão o senhor dá ao futuro presidente da ABAD?
Emerson Destro – Minha sugestão é que ele continue agregando valor a todos que fazem parte da cadeia de abastecimento. Dessa forma, a ABAD ganhará a cada dia mais importância e relevância junto ao mercado.
Anuário ABAD – Ao deixar a diretoria da ABAD, quais os seus planos?
Emerson Destro – Conduzir o dia-a-dia dos negócios, trabalhando pelo fortalecimento do pequeno e médio varejo brasileiro e crescimento de nossa empresa. Termino o mandato com o sentimento de dever cumprido. Fiz o meu melhor em prol do associativismo do setor.