“Em pouco mais de dois meses, a perda no consumo foi de cerca de R$ 500 bilhões”, Marcos Pazzini, analista da IPC Maps
Os estragos provocados pela pandemia da Covid-19 atingiram duramente o consumo das famílias brasileiras, que deverá registrar retração de 5,4% neste ano em comparação a 2019, a maior verificada desde 1995, movimentando R$ 4,4 trilhões na economia. Os dados são do levantamento IPC Maps. Elaborado pela IPC Marketing Editora, o estudo é o único que apresenta, em números absolutos, o detalhamento do potencial de consumo por categorias de produtos para cada um dos 5.570 municípios brasileiros, com base em dados oficiais.
De acordo com o analista Marcos Pazzini, responsável pela pesquisa, no início de março, antes do cenário de pandemia e isolamento social, a previsão de crescimento do PIB, de acordo com análises do Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, era de 2,2%, o que resultaria numa projeção do consumo brasileiro da ordem de R$ 4,9 trilhões, superando os R$ 4,7 trilhões obtidos no ano passado. “Em pouco mais de dois meses, a perda no consumo foi de cerca de R$ 500 bilhões”, comenta. Com a previsão de movimentação de R$ 4,4 trilhões, a economia brasileira, acrescenta Pazzini, retomará os índices de 2010 e 2012, anos em que houve um progresso vigoroso. “A diferença é que para este ano não se espera crescimento, e sim, retração do PIB”.
A pesquisa mostra, também, uma redução na quantidade de domicílios das classes A e B1, o que elevará o número de residências nos demais extratos sociais e impactando positivamente a classe B2, com crescimento de 6,8% em relação a 2019. As outras classes, porém, terão queda nominal do potencial de consumo de 2,9% quando comparado com o ano anterior. De acordo com o levantamento, a classe A deverá, neste ano, reduzir seus gastos para R$ 528,6 bilhões, o que representa 12,8% do total contra 13,7% no ano passado. Os grupos B1 e B2 deverão desembolsar 41,1% (R$ 1,7 trilhão) de tudo o que será gasto neste ano. Em 2019, o percentual foi de 38,4%. Já a classe C, onde estão 48,7% dos domicílios brasileiros, o total de recursos gastos deverá cair para R$ 1,5 trilhão (35,6% ante 37,5% em 2019). Finalmente, o consumo da classe D/E ficará em R$ 437,9 bilhões, ou, 10,6%, praticamente, o mesmo percentual de 2019, que foi de 10,4%. Hoje, o Brasil possui mais de 211,7 milhões de cidadãos, sendo 179,5 milhões na área urbana, que respondem pelo consumo per capita de R$ 23.091,50, contra os R$ 9.916,75 gastos individualmente pela população rural.
Gastos básicos se destacam
O estudo IPC Maps mostra que os itens básicos são os que mais consomem renda dos brasileiros: 25,6% dos desembolsos destinam-se à habitação, incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás. Em seguida aparecem despesas com serviços em geral, reformas, seguros etc., somando 18,1%. Os gastos com alimentação (dentro e fora do lar) chegam a 14,1%, e transportes e veículo próprio, 13,1%.
A pesquisa também mostra que, em termos regionais, apenas o Centro-Oeste e a região Sul ampliaram sua participação no consumo. O Centro-Oeste evoluiu de 8,2% em 2019 para 8,9%, e o Sul, de 17,8% para 17,9%. O Sudeste, que mantém a liderança, caiu de 48,9% para 48,4%; Nordeste, de 18,8% em 2019 para 18,5% neste ano, e a região Norte ficou praticamente estável, respondendo por 6,23% do total de consumo, contra 6,2% no ano passado.
O consumo dos 50 maiores municípios brasileiros equivale a 38,7% ou R$ 1,7 trilhão de tudo o que é gasto no Brasil. Os principais mercados são São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre, Manaus e Goiânia. Cidades das regiões metropolitanas e do Interior também se destacam no ranking, como as paulistas Campinas, Guarulhos, Ribeirão Preto, São Bernardo do Campo e São José dos Campos, e São Gonçalo e Duque de Caxias, no Rio de Janeiro.
A população idosa continua crescendo, segundo o levantamento, e já supera os 30 milhões de habitantes. Na faixa etária economicamente ativa, dos 18 aos 59 anos, estão mais de 128 milhões de brasileiros. Os jovens e adolescentes somam 24,1 milhões, enquanto crianças de até 9 anos totalizam 29,4 milhões.