No primeiro semestre deste ano o e-commerce apresentou crescimento de 6%, representando desaceleração em relação a igual período do ano anterior, quando o crescimento foi de 47%. Apesar dessa queda, os números continuam altos: foram movimentados R$ 118,6 bilhões. É o que revela o estudo Webshoppers 46, realizado pela NielsenIQ | Ebit. Produzido desde 2001, é o levantamento de maior credibilidade sobre o comércio eletrônico brasileiro e a principal referência para os profissionais do segmento. O total de consumidores online chega a 49,8 milhões.
De acordo com Marcelo Osanai, líder de e-commerce da NielsenIQ | Ebit, há duas principais razões que explicam o menor crescimento do mercado eletrônico no primeiro semestre deste ano. Uma delas é a base de 2021, bastante alta, quando as vendas totalizaram R$ 182,7 bilhões. “Continuar com altas taxas é muito difícil para um mercado que começa a entrar numa fase de amadurecimento.” A outra razão é o momento econômico que o País vive. “Temos inflação alta, desemprego, incerteza política. Isso afeta o consumo de uma forma geral e o próprio crescimento do e-commerce.”
Um reflexo do crescimento mais modesto do e-commerce neste semestre foi a redução de 8% no valor do tíquete médio. “O valor do tíquete é influenciado pela compra de grandes itens. Vemos um aumento no número de pedidos mas queda no tíquete médio, o que pode estar associado à diminuição na compra dos grandes itens, com preços mais altos.”
Entre as 12 categorias auditadas pelo Webshoppers – alimentos e bebidas, bebês e cia., casa e decoração, construção e ferramentas, eletrodomésticos, eletrônicos, esporte e lazer, informática, moda e acessórios, perfumaria e cosméticos, saúde e telefonia – alimentos e bebidas foram o grande destaque, apresentando aumento de 128% no total de pedidos. “Em 2021 essas categorias também tiveram bom desempenho. Mesmo nesse cenário de instabilidade econômica, alimentos e bebidas continuam com forte crescimento, o que reflete a oportunidade de categorias de alto giro explorarem essa dinâmica do comércio eletrônico e todos os benefícios que isso pode trazer para o consumidor”, afirma Osanai. Perfumaria e cosméticos cresceram 24%; bebês e cia., 17%; saúde, 15%; e esportes e lazer, 9%.
O uso de aparelhos como smartphones e tablets para a compra de artigos online teve uma leve queda na comparação com o primeiro semestre de 2021. De acordo com o levantamento, o percentual de consumidores que realizaram pedidos por meio de aparelhos mobile caiu de 53,9% para 53,8%. Na comparação que considera o índice Gross Merchandise Volume (Volume Bruto de Mercadoria, na sigla em inglês) para aparelhos mobile, a queda foi maior, caindo de 48,5% para 48%.
Mesmo assim, o uso do mobile ainda é o principal meio de compras online no País, sendo responsável por 54% dos pedidos. Na divisão por regiões, a tendência se mantém, com destaque para a região Norte, que aumentou a porcentagem que mede a importância da compra via dispositivo móvel de 61% para 67%, na comparação entre o primeiro semestre de 2022 com igual período de 2021.
O Webshoppers 46 também destaca o crescimento e consolidação do frete grátis, já identificado em edições anteriores do estudo. No primeiro semestre deste ano, 50% dos pedidos não tiveram cobrança de frete. Na opinião de Osanai, essa tendência significa que as empresas estão com infraestrutura melhor para servir seus consumidores, trazendo benefícios para eles. O frete é um indicador importante para a experiência de compra e, mesmo quando ele é cobrado, os indicadores deste semestre mostram queda no preço médio. Em comparação com igual período do ano anterior, a retração foi de 12%, caindo de R$ 14,29 para R$ 12,55. “À medida que toda a cadeia se organiza, investe em tecnologia, em infraestrutura, é possível transferir esse benefício ao consumidor através da redução no preço do frete pago.”
Espaço a explorar
O desempenho mais modesto do e-commerce não significa, no entender de Marcelo Osanai, que o comércio eletrônico atingiu uma base estável, passando a ter um crescimento orgânico. Para ele, há muito espaço a explorar. “A nossa estimativa de usuários de e-commerce é de 22% da população do Brasil, e sabemos que há muito mais consumidores com acesso à internet, que possuem celular e estão em regiões servidas pelo comércio eletrônico. Há muita oportunidade ainda.” Outro ponto destacado por Osanai é fazer com que os consumidores atuais aumentem os seus pedidos. “Isso vai acontecer através da própria evolução do canal à medida que os benefícios do e-commerce fiquem cada vez mais claros e óbvios. Seja pelo preço, pela comodidade de receber em casa.”
Marcelo Osanai também ressalta a importância de melhorar a experiência de compra do consumidor, um processo que começa pela navegação nas páginas das lojas – que precisa ser cada vez mais fluida, natural e simples – passa pela entrega, que compreende preço e velocidade do frete, e termina nas facilidades de devolução do produto caso ele esteja em desacordo com a expectativa ou por desistência do consumidor.