No ano que passou, o canal cash & carry manteve a liderança na preferência do consumidor, pela oferta de produtos com menor preço em relação aos demais canais, pelo sortimento e também pelas promoções. Estas são algumas das conclusões do estudo Dinâmica dos Canais no Varejo Moderno elaborado pela consultoria NielsenIQ com dados de 2021. O levantamento aferiu a performance das redes de supermercado, farmácia e cash & carry.
O bom desempenho do cash & carry está intimamente ligado à instabilidade econômica, ao aumento da inflação. De acordo com Daniel Asp, gerente de relacionamento com o varejo da NielsenIQ, a partir do Plano Real e da estabilização da economia, já não havia tanta diferença de preço entre o hipermercado e uma loja de bairro, por exemplo. E, ao longo dos anos 2000, os supermercados se desenvolveram bastante no que se refere a sortimento, conveniência e experiência de compra. Porém, a partir de 2015, quando a inflação começou a aumentar, o cash & carry passou a crescer de maneira mais consistente, movimento que continua a ser verificado. Como em 2015, o consumidor, hoje, precisa economizar buscando preço mais acessível.
O estudo revela os canais preferidos do consumidor dependendo da sua necessidade de momento. Se o foco é economizar, ele vai ao cash & carry, onde os preços são, em média, 10% mais baratos do que no autosserviço. “Por outro lado, quando o consumidor está mais interessado na experiência de compra, ele opta pelo supermercado.” O autosserviço de proximidade que, numericamente, é maior que todos os outros, é a escolha para uma compra de reposição ou emergência. Já o canal farma vem se desenvolvendo muito, principalmente no sortimento das categorias de higiene e beleza e não apenas medicamentos.
Já com relação à missão de compra, o cash & carry é o canal preferido para a chamada compra do mês. De acordo com o levantamento da NielsenIQ, de tudo o que foi gasto nesse canal em 2021, 71,5% foram tíquetes de compra de volume, enquanto 27,9% foram gastos com reposição. Já no autosserviço, os maiores desembolsos do consumidor foram com as compras de reposição. “A redução do poder de compra e a grande massa de trabalhadores informais fazem com que as pessoas deixem de fazer a compra do mês, optando pela reposição. Compram o que vão comer no dia ou na semana”, explica Daniel Asp. Outro dado revelado é que a preferência na hora da compra recai sobre alimentos básicos e complementares em detrimento do supérfluo. Além disso, a inflação tem provocado desaceleração do consumo de categorias de alto giro, que crescem em valor e diminuem em volume.
Tendências
Diante desse cenário, o estudo Dinâmica dos Canais elencou as tendências em cinco pontos: conveniência e proximidade, sortimento, preço e promoção, ocasião e experiência. Para checar a importância da conveniência, a pesquisa da NielsenIQ perguntou aos consumidores se nos últimos seis meses eles haviam feito compras em um supermercado diferente do habitual e 46% deles responderam que sim. O que mais influenciou essa ida foi a abertura de loja nas proximidades (24%). “Por isso, é importante que nessa primeira visita o consumidor tenha uma boa experiência. Muitos varejistas abrem o estabelecimento sem ele estar totalmente pronto e isso pode custar caro, já que a experiência de compra pode ser ruim”, ensina Daniel Asp. O crescimento no número de lojas também é significativo. De 2020 para 2021, o cash & carry cresceu 17%, com 173 novas unidades, totalizando 1.157. Foi o maior crescimento entre todos os canais. O Farma também apresentou boa performance, crescendo 6,5%. Por outro lado, o hipermercado foi o único que sofreu retração, de 1,9%, o que indica perda de força do canal no contexto macroeconômico atual. O estudo indica que o cash & carry continuará com expansão, abrindo lojas em novas regiões e aumentando a disponibilidade para os consumidores. Embora seja o canal de menor contribuição para o faturamento, o farma apresenta o maior número de lojas por cem mil habitantes. O e-commerce atingiu no ano passado o faturamento recorde de R$ 182 bilhões, com crescimento de 27% em relação ao ano anterior.
No quesito sortimento, todos os canais estão aumentando a oferta de itens. O estudo destaca que o hipermercado possui o maior sortimento por loja, embora venha retraindo, e o cash & carry mantém a sua fortaleza na oferta de embalagens maiores, o que faz sentido levando-se em consideração que esse canal é o preferido para a compra do mês, quando o consumidor adquire volumes maiores de produtos. O canal farma também aposta na venda de embalagens maiores, especialmente nas categorias de higiene e beleza e limpeza, que apresentaram crescimento em volume no último ano.
Com relação a preço e promoção, o levantamento da NielsenIQ mostra que o consumidor brasileiro é o mais preocupado do mundo com preço (34% versus 25%, média global), chegando a trocar de marca ou loja para pagar menos. Enquanto no mercado como um todo o crescimento é dos produtos de menor preço, no cash & carry os preços mais altos também crescem como consequência do maior desembolso nos itens. E, para manter-se competitivo e atrativo ao consumidor, o cash & carry muda a dinâmica promocional.
No item ocasião há destaque para o fato de que a maioria dos produtos disponíveis no canal bar não volta ao patamar de 2019, mesmo após uma recuperação em 2021. Outra constatação é o crescimento de embalagens menores dentro da principal categoria do bar, a cerveja. Porém, tanto as embalagens maiores de cerveja quanto as menores sofrem com os aumentos dos preços.
Finalmente, em experiência, nota-se que o varejo busca diferentes formas de inovar buscando uma jornada de compra mais simples e moderna ao mesmo tempo. Nesse quesito vale destacar o desempenho do cash & carry em frutas, verduras e legumes (variação positiva de 15,7%), o que pode contribuir para levar o consumidor mais vezes para a loja. “Estar atento a tendências dentro do Brasil e também em outros países é essencial para proporcionar a melhor experiência ao consumidor e fidelizá-lo”, recomenda Daniel Asp.