As dores de um empreendedor

A Rio Quality, empresa familiar, é uma distribuidora especializada no canal food service. Fundada em 1980 é, hoje, um dos principais distribuidores exclusivos para o canal. Segundo Marcello Queiroz Marinho, gerente de planejamento, 96% das vendas são para o setor de food service. Conta com 12 mil clientes ativos, em sua maioria bares, restaurantes, lanchonetes, cafeterias, cozinhas industriais, padarias, confeitarias, hotéis, pubs e pequenas fábricas de alimentos.

Queiroz Marinho chegou à empresa em 2010, atendendo a um convite do pai, que queria profissionalizar a gestão da empresa. Desde então, tem se defrontado com problemas que não existiam há poucos anos, frutos da inovação. Alguns deles acabam tirando o sono do empreendedor. Como as dark stores (unidades exclusivas para armazenamento, separação e envio de produtos comercializados online). “O que elas estão ensinando para o mercado? Que você pode receber o pedido em menos de uma hora. Sempre nos orgulhamos, como distribuidores, de entregar 90% dos produtos em até 24 horas. Mas isso já não é suficiente. Estamos descobrindo que teremos de entregar no mesmo dia.”

Falando em transporte, a Rio Quality passou a utilizar sistemas de monitoramento e gestão de entregas. “A área de transportes estava preocupada em fazer o rastreamento do caminhão. Com as novas soluções, o foco passou a ser o melhor serviço para o cliente, com maior eficiência.” Outra inovação foi a adoção, na expedição, de uma solução de voice picking. “Não é algo novo, mas quando adotamos, em 2016, era muito caro, tinha um valor impeditivo para o nosso perfil de empresa.” Aí, encontraram uma empresa que roda a solução num celular Android. “Fomos a primeira empresa do Brasil a rodar o voice picking no celular.” O novo sistema trouxe ganhos consideráveis à operação. “Conseguimos um ganho de 40% de produtividade. Antigamente, o voice picking era destinado às grandes indústrias e empresas verticalizadas. Agora está ao nosso alcance, trazendo resultados também para o nosso cliente.”

Outra dor de cabeça no dia a dia da Rio Quality são os ERPs. “Eles tiveram um papel muito grande no desenvolvimento do distribuidor. Nossa jornada de profissionalização e organização passa por esses parceiros, que trazem uma ampla visão de processos, de como fazer da melhor maneira. São sistemas que operacionalmente nos atendem muito bem.” Os problemas começam quando se entra no campo da gestão do negócio, análise de dados, geração de controles orçamentários, análise do resultado econômico e financeiro da operação. “Nessa área eles deixam muito a desejar. Tivemos nossa curva de desenvolvimento e agora demandamos soluções mais completas para entrar nessa gestão e não encontramos. Acabamos tendo que conectar muitos sistemas. Nenhum ERP nosso tem uma solução robusta, ágil e eficiente para trabalhar a integração.”

Desafios

Marcello Queiroz Marinho elenca alguns desafios que os gestores enfrentam. O primeiro deles é a gestão de pessoas. “A Rio Quality cresceu muito nos últimos anos e, à medida que crescemos, vamos demandando profissionais mais qualificados, e eles são difíceis de encontrar.” Depois que encontra, vem um novo desafio: continuar o desenvolvimento desse profissional e conseguir retê-lo na empresa, uma vez que o mercado no segmento está aquecido. “Outro ponto ao qual os gestores precisam estar atentos é como transformar o setor de TI numa área estratégica de negócios e não operacional, seja porque hoje é muito difícil contratar profissionais de TI, seja porque não temos dentro das nossas empresas uma cultura de desenvolver soluções, temos a cultura de adotar as melhores soluções.”

O terceiro desafio apontado por Queiroz Marinho é o gerenciamento de mudanças, “que estão acontecendo numa velocidade muito grande e são cada vez mais complexas. Se as empresas não conseguirem acompanhar esse ritmo, vão ficar para trás.” Por último vem a manutenção da competitividade. “Precisamos pensar em como vamos usar a tecnologia para seguir alavancado nosso negócio e como vamos manter a relevância que temos no mercado de hoje daqui a dez anos, quando deveremos competir com players nacionais.”

A solução para alguns desses desafios é o investimento em inovação. O executivo da Rio Quality tem a convicção de que a transformação é necessária. “Temos que nos adaptar e a melhor forma de fazer isso é através da entrega de resultados, começar pequeno, mostrar os resultados, o retorno do investimento.” Num segundo momento, ter uma área de inovação de negócios, a mentalidade de startup dentro de uma empresa centenária, por exemplo. “Mas é caro fazer dentro de casa. Vamos, então, nos aproximar de empresas que tenham sinergia com o nosso negócio. Vejo no mercado empresas com ideias maravilhosas, mas que não encontram terreno para pilotar a prática. Por que não sermos esse berçário de startups?”

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