O brasileiro está partindo para uma vida com hábitos mais saudáveis. É o que se depreende do estudo Consumo Saudável realizado pela consultoria Nielsen. O levantamento mostra que, em 2020, 83% afirmaram incluir pelo menos um hábito saudável em sua rotina. Em 2015, esse percentual era de 78%. Na América Latina, no mesmo ano, eram 75% os que tinham alterado sua alimentação.
A pesquisa da Nielsen classificou os consumidores saudáveis em cinco tipos. O saudável aspirante é aquele que reduz o consumo de sal, açúcar, gordura e/ou industrializados. Esse percentual representa 37% dos lares brasileiros. Em seguida vem o saudável mínimo que, além de adotar os mesmos hábitos do aspirante, faz exercícios físicos. Uma parcela pequena dos lares, 2,9%, está nesse grupo. O saudável reduz, também, o consumo de cafeína, lactose e/ou glúten, faz exercícios e realiza consultas periódicas ao médico, representando 13,9% dos lares. O super saudável está presente no menor percentual de lares, 1,8%, e acrescenta, além dos hábitos do saudável, o consumo de produtos orgânicos. Finalmente, o extremamente saudável tem os mesmos hábitos do super saudável, acrescido de consulta ao nutricionista, além de preferir os canais de compra de produtos frescos, adquiridos em feiras e hortifruti. Nesse grupo estão 27,5% dos lares brasileiros. “Apesar de aproximadamente um terço dos brasileiros adotarem hábitos extremamente saudáveis, 16,9% da população não adota hábito nenhum”, destaca Daniel Souza Asp, gerente de relacionamento com o varejo da consultoria Nielsen.
Com relação ao nível socioeconômico, o estudo mostra que as classes mais altas concentram os grupos mais saudáveis. “Quanto menor o poder aquisitivo, menor é a preocupação com o saudável. Essa constatação está ligada, entre outros fatores, à capacidade de compra, porque os produtos saudáveis são mais caros”, explica Daniel Asp. Outra constatação é a de que quanto mais maduros (com pessoas mais velhas) são os lares, maior é a penetração dos produtos saudáveis.
A pesquisa apontou que existem categorias gatilho, que movem o consumidor às compras. Frutas, legumes e verduras estão entre as principais, seguida de biscoitos e chocolate, laticínios, alimentos básicos (arroz, farinha, macarrão) e carnes ou aves frescas. “É importante para o varejista ter uma seção de frutas e verduras bem apresentada, isso atrai o consumidor”, recomenda Daniel Asp. De 2019 para o ano passado, os alimentos frescos ganharam espaço no varejo brasileiro, saindo de 5,3% do faturamento para 6,6%. O crescimento da procura por esses itens de um ano para o outro foi de 24,6%.
A preocupação com o meio ambiente é mais um fator que está mudando os hábitos dos brasileiros. “Quanto mais extremamente saudável, mais preocupado o consumidor se diz. Ele não compra produtos de empresas que realizam testes com animais e está mudando a alimentação para reduzir o consumo de carnes em geral.”
Quando se analisa o crescimento de todas as cestas, as categorias saudáveis cresceram mais do que a média. Enquanto o total de cestas cresceu 15,3%, os saudáveis cresceram 17,9%, com destaque para os produtos sem lactose e integrais. Esse crescimento do segmento saudável se deu em todas as regiões brasileiras, com destaque para o Nordeste, que cresceu 25,4%. Por canal de compra, o cash & carry liderou o crescimento.
A prova de que o mercado de saudáveis vai bem, obrigado, é o fato de que no ano passado houve nada menos do que 1.229 lançamentos. Foram 407 novos produtos integrais, 336 zero, light ou diet e 218 naturais.
Nicho de mercado
A Superbom, empresa que atua no mercado de saudáveis desde 1925, sentiu o crescimento aferido pelo levantamento da Nielsen. De acordo com David Oliveira, diretor comercial de Marketing, “ano após ano a Superbom vem aferindo o crescimento desse mercado e do consumo efetivo”. Por isso, anualmente são apresentados diversos lançamentos de produtos, tanto na linha seca quanto na refrigerada e congelada. Famosa pelo suco de uva, primeiro lançamento da empresa, a Superbom produz também, geleias, méis, salsichas, proteínas, pratos prontos, carnes sem o uso de proteína de origem animal. Os carros-chefes da empresa são os “cafés” de cevada e de milho, os substitutos da carne e os méis. “Essas linhas são comercializadas há mais de cinco décadas, são produtos muito tradicionais e com uma vasta distribuição.”
No entanto, o mercado vegetariano e vegano ainda é relativamente pequeno no Brasil. Segundo a última pesquisa divulgada, de 2018, há 14% de vegetarianos no País; desses, 3,2% seriam veganos, de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira. Para aumentar esse percentual, David Oliveira acredita que o primeiro passo já foi dado através da conscientização da conservação do planeta, do meio ambiente e do próprio corpo. “Não acredito que seja necessária a expansão da rotulação de vegetarianos ou veganos. O importante é a mudança de comportamento, se não em todas as refeições, todos os dias da semana, pelo menos, em alguns dias. Isso já ajudará na expansão da categoria e trará uma melhora significativa do meio ambiente e da saúde física dos consumidores.”
Uma das razões para o baixo consumo de alimentos saudáveis seria o preço, mais caro que os tradicionais. David Oliveira afirma que a maior busca da indústria é justamente a de oferecer preços mais competitivos e produtos ainda mais semelhantes aos convencionais de origem animal. “Aqui na Superbom, o ano de 2019 foi um ano de busca de melhoria nas receitas dos produtos plant-based [elaborados apenas com matérias-primas de origem vegetal] e o resultado foi surpreendente. Em alguns produtos conseguimos reduzir 25% no custo, trocando insumos e matérias-primas, sem perder o nosso diferencial, que é a qualidade, sem retirar o nosso composto vitamínico de ferro, zinco e vitaminas A, B9 e B12, e especialmente, mantendo suculência, sabor e textura, simulando uma experiência muito próxima à do produto de origem animal.”
David Oliveira acredita que há grandes possibilidades de conversão de vendas nesse nicho de mercado dos saudáveis e que é, na sua opinião, uma das principais tendências globais.